Article

lock Open Access lock Peer-Reviewed

0

Views

ARTIGO ORIGINAL

Nova bioprótese aórtica sem suporte: resultados clínicos

Bayard Gontijo Filho; Mário O Vrandecic; Mário Morea; Kjell Radegran; João Alfredo de Paula e Silva; Fernando Antônio Fantini; Juscelino Teixeira Barbosa

DOI: 10.1590/S0102-76381992000300008

RESUMO

No período de maio de 1990 a março de 1992, 81 pacientes foram submetidos a implante de urna bioprótese aórtica sem suporte Stentlessem três centros: Biocór Hospital (34 pacientes), Universidade de Turim (31 pacientes) e Hospital Karolinska (16 pacientes). A idade variou de 14 a 85 anos, com média de 51 anos. Quarenta e oito pacientes eram do sexo masculino e 33 do sexo feminino. O período de acompanhamento pré-operatório variou de 1 a 22 meses. A principal indicação para a cirurgia foi a estenose aórtica, destacando-se 5 pacientes que apresentavam endocardíte aguda da valva aórtica com presença de severo comprometimento do anel em 3 deles. Todos os pacientes foram operados sob hipotermia moderada e proteção miocárdica com cardioplegia cristalóide. A técnica básica do implante da bioprótese foi com duas camadas de chuleio contínuo de Prolene 4 zeros. Todos os pacientes sobreviveram à cirurgia. Houve 4 (4,93%) óbitos no pós-operatório imediato e 1 (1,23%) óbito tardio no 16º mês de pós-operatório secundário a trombo-embolismo pulmonar. A principal complicação pós-operatória foi o bloqueio AV total, em 7 pacientes. O estudo ecocardiográfico realizado em todos os pacientes mostrou gradientes que variaram de 6 a 12 mmHg. Todos os pacientes encontra-se em controle clínico, incluindo avaliação hemodinâmica pela ecodopplercardiografia. Os resultados preliminares desta nova bioprótese são promissores com relação à sua performance a longo prazo, sendo a observação tardia fundamental na confirmação dos excelentes resultados iniciais.

ABSTRACT

From May/1990 to March/1992, 81 "Stentless" porcine bioprosthesis were implanted in the aortic position in three Centers: Biocor Institute (34 patients), University of Torino (31 patients) and Karolinska Hospital (16 patients). The age ranged from 14 to 85 years, with a mean age of 51. There were 48 male patients and 33 femele; the post operative follow-up ranged from 1 to 22 months (mean = 7 months). The main indication was aortic stenosis. There were 5 patients with acute endocarditis of the native aortic valve, with significant hemodynamic impairment, and presence of annular abscesses in 3 of them. All patients were operated on under moderate hypothermia and myocardial protection, with cristalloid cardioplegia. The "Stentless" bioprosthesis was inserted using two layers of a 4-0 Prolene running suture. All patients survived the operation; there were 4 early deaths (4.93%) and one late death secundary to pulmonary embolism (16 th months post. op.). The major hospital complication was complete AV block in 7 patients. All patients are in regular clinical follow-up, including hemodynamic assessment by echodopplercardiography. The preliminary data show an excellent hemodynamic performance of the "Stentless" bioprosthesis.
Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

DR. PAULO PRATES
Porto Alegre, RS

Agradeço à Comissão Organizadora a inclusão do meu nome como comentador oficial. O Dr. Gontijo Filho faz parte da sociedade a que, com muito orgulho, também pertenço como membro fundador: A Denton Cooley Cardiovascular Surgical Society". O lema que norteia nossa sociedade é: modificar, simplificar, aplicar. O conceito de bioprótese sem suporte não é novo e talvez seja mais antigo que as próteses com suporte, pois surgiram com os homo-enxertos. No entanto, os autores modificaram este conceito, simplificando-o e aplicando-o com sucesso. Porisso, cumprimento duplamente o autor e colaboradores pelo importante trabalho e por estar seguindo nosso lema. Aminha vida pessoal do problemadas biopróteses é que os resultados a curto e médio prazos são muito bons e isto faz com que poucos grupos se dediquem com afinco ao estudo deste campo. A curva de sobrevida de pacientes com biopróteses porcinas em posição aórtica sem falha nas mesmas mostra números como 60-66%. Em 7 e 11 anos, conforme levantamento feito e publicado pelo Dr. Renato Kalil, em nosso Serviço e pelo Dr. Gallucci, na Itália. A curva começa a decrescer em torno do 3º ao 5º ano de evolução. Nós sabemos que os pontos problemáticos na duração das biopróteses continuam sendo o suporte, o gradiante e o método de conservação. Por outro lado, é evidente que as falhas nas biopróteses devem ser encaradas como multifatorais onde são importantes o tipo de paciente, o cirurgião e a fabricação das mesmas. Isto dificulta o problema e a decisão entre prótese mecânica e bioprótese em muitos casos continua sendo muito difícil para nós, principalmente em pacientes jovens. Os autores apresentam uma bioprótese sem suporte rígido ou semi rígido sendo o suporte necessário substituído pela parede da aorta, que, com sua elasticidade, amortece, evidentemente, o trauma nos folhetos. Isto, por si só, deve aumentar a durabilidade; o tipo de montagem nos permite usar próteses com uma área funcionalmente maior, o que diminui o gradiente transvalvular, que é outra causa de alteração nos folhetos. O que, a meu ver, permanece é o problema da calcificação precoce nos jovens, que parece estar relacionado ao método de conservação dos tecidos. O inconveniente de não ser ideal para o uso em paredes aórticas alteradas é sobrepujado pelo grande conveniente de ser usado com vantagens nas endocardites e nas aortas que necessitam alargamento. O período de acompanhamento é ainda muito curto, mas penso estarmos no caminho certo e, porisso, mais uma vez cumprimento os autores pelo excelente trabalho.

DR. BAYAR GONTIJO
(Encerrando)

Agradeço os comentários do Dr. Paulo R. Prates e concordamos plenamente em que os fatores de degeneração das biopróteses são de origem multifatorial e, justamente neste sentido, temos orientado nosso trabalho, ou seja, no aprimoramento do designe na preservação tissular. A simples eliminação do suporte das biopróteses aórticas apresenta, de imediato, pelo menos duas grandes vantagens hidrodinámicas que, porsi só, podem aumentarsua longevidade. Em primeiro lugar, há um funcionamento dos seios de Valsalva, que assumem grande importância no fechamento valvular, tornando-o mais suave, sem determinar stress às cúspides aórticas. A segunda vantagem é o ganho evidente de uma área funcional efetiva com geração de menores gradientes. Desta forma, estes substitutos, por se assemelharem à valva aórtica nativa, deverão apresentar melhor performance a longo prazo, fato este que já pode ser verificado em outras experiências. Por outro lado, procuramos salientar, neste trabalho, a importância da bioprótese Stentlessem pacientes com alterações do anel aórtico, nos quais, não nos resta dúvida, ser esta a melhor opção atual de que dispomos.

REFERÊNCIAS

1. ANGELL, W. W.; ANGELL, J. D.; OURY, J. H.; LAMBERTI, J. J.; GREHL, T. M. - Long term follow-up of viable aortic homografts: a viable homograft bank. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 93: 815-822, 1987. [MedLine]

2. BAILEY, C. P.; GLOVER, R. P.; O'NEIL, T. J. E.; RAMIREZ, R. H. P. - Experiences with the surgical relief of aortic stenosis. J. Thoracic. Cardiovasc. Surg., 20: 516-541, 1950.

3. BARRAT-BOYES, B. G. - Homograft aortic valve replacement in aortic imcompetence and stenosis. Thorax., 19: 131-150, 1964. [MedLine]

4. CARPENTIER, A.; LEMAIGRE, C. G.; ROBERT, L.; CARPENTIER, S.; DUBOST, C. - Biological factors affecting long term results of valvular heterografts. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 58: 467-483, 1969. [MedLine]

5. CURRIE, P. J.; SEWARD, J. B.; REEDER, G. S.; VLIETSTRA, R. E.; BRESNAHAN, D. R.; BRESNAHAN, J. F.; SMITH, H. C.; HAGLER, D. J.; TAJIK, A. J. - Continous wave Doppler ecocardiographic assessment of severity of calcific aortic stenosis: a simultaneous Doppler catheter correlative study in 100 adult patients. Circulation, 71: 1162-1169, 1985. [MedLine]

6. DAVID, T. E. & POLLICK, J. - Aortic valve replacement with Stentless porcine aortic bioprosthesis. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 99: 113-118, 1990. [MedLine]

7. DURAN, G. M. G.; MANLEY, G.; GUNNING, A. J. - The behaviour of homo-transplanted aortic valves in the dog. Br. J. Surg., 52: 549-552, 1965. [MedLine]

8. GOFFIN, Y. A.; BLACK, M. M.; LAWFORD, P. V. - The stability and performance of bioprosthetic heart valves. Curr. Pespectives Implant. Devices, 2: 65-120-126, 1990.

9. MURRAY, G.; ROSCHLAU, W.; LOUGHEED, W. - Homologous aortic and mitral insufficiency. Angiology, 7: 466-471, 1956. [MedLine]

10. ROSS, D. N. - Homograft replacement of the aortic valve. Lancet, 2: 487-488, 1962.

11. SKJAERPE, T. & HEGRENAES, L. - Non-invasive estimation of valve area in patients with aortic stenosis by Doppler ultrasound and two-dimensional echocardiography. Circulation, 72: 810-818, 1985. [MedLine]

12. TEMPLETON, T. Y. & GIBBON, J. H. - Experimental recontruction of cardiac valves by venous and pericardial grafts. Ann Surg., 129: 161-176, 1949. [MedLine]

13. WILLAM, V. L.; ZAFIRACOPOULOS, P.; HANLON, C. R. - Replacement of mitral valves with homograft aortic valve. In: Prosthetic valves for cardiac surgery. Springfield, Charles C. Thomas, 1961. p. 142.

CCBY All scientific articles published at www.rbccv.org.br are licensed under a Creative Commons license

Indexes

All rights reserved 2017 / © 2024 Brazilian Society of Cardiovascular Surgery DEVELOPMENT BY